segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
domingo, 17 de julho de 2011
quinta-feira, 30 de junho de 2011
"Até quando vamos esconder os nossos braços?"
Minha gorfada de hoje sairá da goela em forma de protesto punk. O texto abaixo foi extraído do encarte do álbum "Pela Paz em Todo Mundo", da banda punk paulistana Cólera. Cuidei para manter as palavras originais, exatamente como foram impressas, por entender que os erros de português são tão importantes quando o riquíssimo conteúdo da obra. O sentido e as impressões que emanam das benditas palavras soam para mim como um grito de liberdade. Não a liberdade do ser livre, mas a liberdade que de joelhos para mim arranca meu saco com os dentes.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
segunda-feira, 13 de junho de 2011
“Um grupo de porcos-espinhos apinhou-se apertadamente em certo dia de frio de inverno, de maneira que aproveitassem o calor uns dos outros e assim salvaram-se da morte por congelamento. Logo, porém, sentiram os espinhos uns dos outros, coisa que os levou a se separarem novamente. E depois, quando a necessidade de aquecimento os aproximou mais uma vez, o mal surgiu novamente. Dessa maneira, foram impulsionados para trás e para a frente, de um problem
a para o outro, até descobrirem uma distância intermediária, na qual podiam mais toleravelmente coexistir.”
Fonte: SCHOPENHAUER, Arthur. "Gleichnisse, Parabeln und Fabeln", in Parerga und Paralipomena (1851)
quinta-feira, 9 de junho de 2011
terça-feira, 7 de junho de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
sábado, 14 de maio de 2011
Minha singela homenagem à associação de moradores do bairro de Higienópolis
Da janela de jacarandá,
Vejo os telhados de zinco.
O aroma de especiarias
Tão distantes do pouco feijão de domingo.
Os espelhos de cristal dispostos como biombos
E uma grade enviezada
Protegendo a miséria dos corações.
No mármore frio onde a soberba lava as mãos,
Escorre o esgoto
E entre as orquídeas raras,
O Lodo.
Iguarias habilmente preparadas por mãos severinas
E a fumaça de um charuto enrolado sobre uma perna negra.
Os sorrisos... Por trás dos sorrisos elegantes
Sempre há um choro de fome.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Fui inúmeras vezes criticado ao dizer que acreditava que o próprio governo americado havia arquitetado os ataques de 11 de Setembro. Quanto mais tento tirar isso da cabeça e quanto mais os dias passam e o cenário político-econômico mundial vai se atualizando, mais acredito na capacidade dos Americanos estarem por trás de tudo.
terça-feira, 5 de abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
A volta dos que não foram
Não me surpreenderam os comentários homofóbicos e racistas do deputado Jair Bolsonaro (PP/RJ) esta semana, que provocaram calorosas discussões em alguns fóruns da internet. Ainda convivemos com os filhotes da ditadura militar no Brasil (início das décadas de 1960 e 1980) que acreditam que a melhor forma de governar o país é com a mão de ferro de um grupo pequeno burguês ignorante, lacaio da burguesia conservadora e/ou (se não for pior) baseado em princípios xenofóbicos e ufanistas. É triste verificar que muitos estão aderindo a este movimento reacionário e constatar que ainda se acredita que um gay "pode ser curado" na pancada ou numa igreja. "As ditaduras fomentam a opressão, as ditaduras fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade; mas o mais abominável é que elas fomentam a idiotia", como diria Jorge Luis Borges.
A nossa sociedade não é doente, ela é ignorante. Não nascemos racistas, nos tornamos racistas. Sei que não é fácil retirarmos esta crosta malévola de nossa pele, suas raízes parecem muito profundas, mas não há outra forma de eliminá-la se não a enfrentando. Aprendemos com os outros a ser o que somos e por isso podemos, no mínimo, compreender nossa triste história e mudar nossa atitude.
Por mais que estes seres fascistas ainda se escondam, como qualquer rato (sem ofensas ao animal), alguns já começam a dar as caras para além do esgoto. Em breve estarão numa marcha pela família, exigindo a extradição dos bolivianos de São Paulo, ateando fogo em terreiros de banda ou de candomblé (como já ocorre no Estado da Bahia) ou promovendo o linchamento de um casal gay em plena Avenida Paulista.
quinta-feira, 31 de março de 2011
DIFICULDADE DE GOVERNAR
2. E também difícil, ao que nos é dito, dirigir uma fábrica. Sem o patrão as paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem. Se algures fizessem um arado ele nunca chegaria ao campo sem as palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem, se outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que seria da propriedade rural sem o proprietário rural? Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
3. Se governar fosse fácil não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer. Se o operário soubesse usar a sua máquina e se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas não haveria necessidade de patrões nem de proprietários. E só porque toda a gente é tão estúpida que há necessidade de alguns tão inteligentes. 4. Ou será que governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira são coisas que custam a aprender?
terça-feira, 22 de março de 2011
O MUNDO EM SÉPIA
Sou de uma época em que as pessoas se sentavam na frente de suas casas para conversarem com seus vizinhos e para observarem as crianças que brincavam até tarde da noite nas ruas de São Paulo. A primeira impressão é que estas atividades não ocorrem mais por conta da violência e por nossas ações cada vez mais individualistas na sociedade. Tenho cá minhas dúvidas quanto a simplicidade da resposta.
Por exemplo, uma coisa mudou drasticamente daquele tempo para cá: a iluminação pública. Segundo a Eletrobras, hoje a maldita lâmpada de vapor de sódio (aquela que emite uma luminosidade amarelo-alaranjada) ilumina 62% das ruas e praças do Brasil. Isto porque este tipo de lâmpada garante uma grande economia para as empresas de energia, já que seu tempo de vida é muito maior que a de outras tecnologias (até 18 vezes maior que as lâmpadas incandescentes), além do menor consumo de energia.
O problema é que o tipo de luz desta lâmpada, que parece embaralhar a nitidez das coisas, me desperta uma desesperadora melancolia. Me dá uma vontade absurda de voltar a ver cores: como as dos shoppings, das igrejas, da televisão...
sábado, 19 de março de 2011
Discurso na Colação de Grau da Turma de Pedagogia da Unicamp (Formandos 2010)
Boa noite a todos e a todas.
Ilustríssimos integrantes da mesa. Queridos familiares, convidados e formandos.
Em uma de nossas primeiras atividades na Faculdade de Educação da Unicamp no ano de 2007, fomos questionados a respeito dos motivos que nos levaram até ali. Acredito que esse momento foi extremamente constrangedor para muitos. Mesmo para mim, um dos integrantes mais velhos da turma, ainda pairavam muitas dúvidas sobre o que eu encontraria naquele lugar (renomado pela excelência de seu corpo docente). Dúvidas sobre o verdadeiro papel de um pedagogo, de um professor em nossa sociedade. Afinal, por que estávamos ali?
Evidente que nossas respostas estavam impregnadas pelo senso comum e pelas falácias criadas dentro de um sistema que luta para se manter desigual. E não pensem que é fácil se libertar das amarras de nossos preconceitos e de nossas opiniões contaminadas.
Convivemos hora com a imagem de um professor doente e silenciado, hora com a de um ser beatificado pelas agruras que “naturalmente” deveriam acompanhar a profissão, quase como uma maldição. É nessa condição, entre o fatídico e o mítico, que buscamos essa identidade imprecisa do professor, que se reinventa nos bastidores da politica liberal e que alimentamos todas as manhãs com a nossa paralisia.
Não é à toa que ainda somos chamados de tios e tias pelas crianças, como apontava (há 20 anos) o grande professor Paulo Freire. Continuamos a ser considerados meros “cuidadores de crianças”. Isso se reflete nas condições gerais de trabalho no campo da educação formal e não escolar, principalmente no majoritário emprego da desvalorizada mão de obra feminina na educação infantil (por vezes, associada à figura mítica da mãe, preparada para cuidar e educar as crianças por obra do divino).
Perante esta imprecisão, permitimos então que se estabeleça um modelo de profissional em que bastam a intenção e a boa vontade. Aliás, isso poderia, até certo ponto, explicar as razões de se acreditar, mesmo no meio acadêmico, que uma pessoa que não frequentou uma licenciatura, seja capaz de em pouquíssimo tempo, por meio de um curso à distância, se tornar preparado para a docência nessa área. Esse fato é bastante simbólico, não é verdade? Não saímos todos daqui, após 4 anos dessa rica convivência universitária, com um desejo de aprender mais? Com a impressão de que temos muito ainda a caminhar? O que dirão esses futuros docentes formados por atacado?
Não podemos nos curvar perante um modelo pernicioso de escola, em que não se busca mais apenas produzir de forma eficiente uma mão de obra barata em acordo com a demanda do mercado. Esta mentalidade “vestibulesca” e economicista que vem tomando conta das escolas, visando preparar as crianças para os chamados testes de proficiência (como o SARESP), sentencia a escola como o lugar em que decorar a fórmula é mais importante que compreendê-la. O conhecimento científico perde definitivamente sua história e seu sentido, e perde também a possibilidade de ser questionado. Ou seja, não se deseja apenas que a escola produza em escala a mão de obra barata para o mercado, mas que esses sujeitos também não questionem. Não se deseja apenas que a escola continue a reproduzir e legitimar as desigualdades em nossa sociedade, mas que seja mais eficiente em produzir disparidades.
Devemos sempre estar alertas para compreendermos até que ponto estamos compactuando com isto. Mais do que nunca, devemos lembrar que educar também é uma ação política. Não há neutralidade. O professor não é simplesmente um transmissor de conteúdos, por mais que possa tentar se restringir a isso. Mesmo quando se pressupõe imparcial, está defendendo uma concepção de escola, uma concepção de sujeito e uma concepção de sociedade.
Sabemos que, historicamente, subestimamos as crianças. Ainda não compreendemos que elas são capazes de aprender além de nossa capacidade aparente de ensinar, capazes de absorver as informações mais implícitas, assim como questionar o que para nós se tornou natural e indelével. Elas constantemente nos demonstram uma qualidade que muitas vezes perdemos durante os anos de “formatação” de nossos cérebros: a rebeldia. Aquela qualidade de resistir, de questionar. Aliás, qualidade que deveria também ser do professor, como diria Florestan Fernandes, “(...) o professor deve ser um cidadão e um ser humano rebelde”.
O conhecimento não é estático, exige rebeldia. Para que se conteste e se busque novas possibilidades. Conhecer é também permitir-se questionar. Por isso, desconfie da harmonia. A escola não deve ser harmoniosa como preconizam alguns. A escola é o lugar da inquietação, o lugar do conflito (em seu sentido de divergência e de oposição). Cabe a nós promover o diálogo e os espaços coletivos de discussão.
Nesse sentido, devemos questionar as reais intenções na disseminação de orientações pacificadoras na escola, propagadas principalmente pela mídia e por organismos internacionais como a UNESCO: “Escola da Paz”, “Cultura da Paz” etc. Somos nós que provocamos as guerras? Deseja-se produzir seres pacíficos ou passivos?
Mas voltemos à questão inicial deste discurso, do porquê de estarmos naquele lugar. Posso finalmente responder:
Estávamos naquele lugar com a paixão própria dos jovens de espírito, esperando que esse poderoso sentimento, por si só, se tornasse o combustível essencial da mudança. Trazíamos o amor incondicional daqueles que idealizam o irreal, aquele amor que padece sobre o primeiro chão de concreto. Hoje, com o espírito renovado, forjamos um amor indissolúvel, aquele que é capaz de florescer na pedra. Compreenda que “amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que falte amor”, diria Vladimir Maiakovski.
Para concluir, desejo publicamente agradecer a todos os professores e funcionários da Faculdade de Educação da Unicamp. Agradecer aos estudantes que estão se formando, aos que já se formaram, aos que irão se formar, aos amigos da pós-graduação, às escolas que abriram suas portas para a realização de nossos estágios e principalmente às crianças que rabiscaram nossos cadernos de campo. Agradecer pela rica convivência e aprendizagem mútua. “Haja hoje para tanto ontem”, dizia Paulo Leminski. Ofereço a todos vocês uma singela homenagem:
Construo um mundo de sonhos,
Que não nasceu de mim
Mas que remodelo com os materiais que encontro.
Um mundo que não é só meu,
Mas que enfeito com as cores que escolho.
Que possui a dimensão dos que me cercam,
Mas que expando sob a condição do ontem.
Na terra fértil que me ensinaram trabalhar,
Cultivo os sóis e as luas que arquiteto.
Colho borboleta em tempestade,
Semeio chuva no inverno.
Traga-me uma flor, uma simples semente que seja...
Que realizo uma violenta primavera.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
Uma vez um velho perguntou-me: por que vinde vós outros, mairs e pêros (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual faziam eles com os cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e por ventura precisais de muito? – Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem muitos panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau Brasil com que muitos navios voltam carregados. – Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? – Sim, disse eu, morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morre para quem fica o que deixa? – Para os filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. – Na verdade, continuou o velho, que, como atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que nos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados. (FERNANDES, 1989, p. 83-84 APUD SAVIANI, 2007 )
SAVIANI, D. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. São Paulo: Autores Associados, 2007, p. 35.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Sustentabilidade, substantivo feminino e abstrato.
Alguns meses atrás, duas jovens de um ONG que trabalha com educação ambiental vieram conversar comigo:
- Senhor, podemos conversar um minuto?
- Sim.
- O que você faz para um mundo sustentável?
- Não tenho filhos.
Depois desta curtíssima conversa, comecei a pensar sobre as retóricas (no mal sentido) exaltadas recentemente pela mídia e até na universidade. Falemos da retórica mais utilizada nestes últimos anos: sustentabilidade. No meu tempo de criança (e adolescência) esta palavra jazia esquecida ao lado de palavras como “sustenizar” e “sustentação” no velho Houaiss. Por que será então que ela desperta com tanta voracidade durante a última década?
Sinto muito dizer aos amigos “verdes” que sustentabilidade é um substantivo abstrato demais para ser levado a sério, é uma falácia comercial, profundamente condicional. Comercial porque é moda, basta ligar a televisão ou ler as revistas e jornais para imaginar o quanto se ganha dinheiro com produtos “sustentáveis”: papel, produtos de limpeza, carros, roupas, eletrônicos... quase colocamos no segundo turno uma presidenciável ecologicamente correta. No entanto, nunca fomos tão consumistas, nunca gastamos tanto com futilidades e com bens cada vez menos duráveis. É aí que reside a condição da falácia, a condição econômica. Se amanhã, por algum motivo, custar 10 (dez) centavos a mais aos empresários para que utilizem materiais que agridam menos o meio ambiente, tudo isso pode desabar. Vou dar um exemplo claro: se uma tonelada de papel reciclado, comprado pela indústria de papel nas cooperativas de catadores de lixo, custa (no máximo) R$ 100,00 e uma tonelada de celulose virgem é vendida no mercado internacional por cerca de R$ 1600,00, com que material o empresário ganhará mais dinheiro, sabendo que os dois papéis chegarão ao mercado com o mesmo preço? Tempo...
A condição é essa: sustentabilidade apenas com ganhos econômicos.
É uma pena ver que as pessoas se mobilizam (com tanta paixão) por uma causa tão perdida, tão falsa.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
“A família dos pensamentos está repleta de anões. É por isso que a lógica e o método foram inventados e, depois de descobertos, adotados pelos pensadores de idéias. PIGMEUS podem esconder-se e acabar esquecendo sua insignificância em meio ao esplendor de colunas em marcha e formações de batalha. Cerradas as fileiras, quem vai notar o tamanho diminuto dos soldados? É possível reunir um exército de aparência extremamente poderosa alinhando-se para o combate fileiras após fileiras de PIGMEUS...”Zygmunt Bauman dando um tapa na cara dos acadêmicos de carreira.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
Então você é contra a justiça histórica explicitada no ato de tomar o feudo e devolvê-lo aos verdadeiros donos? Vou simplificar: você é contra a reforma agrária?
Abaixo, uma pequena parte do poema "Morte e Vida Severina". Se possível, leia o poema na íntegra, assista ao filme ou ouça com "Chico Buarque". É a exposição de nossas feridas ainda abertas, nossa mais bruta realidade, nosso brasil com "b" mesmo, e não com "B".
- Essa cova em que estás, com palmos medida, é a cota menor que tiraste em vida.
- é de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe neste latifúndio.
- Não é cova grande. é cova medida, é a terra que querias ver dividida.
- É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
- É uma cova grande para teu defunto parco, porém mais que no mundo te sentirás largo.
- É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.
"Morte e vida Severina" - João Cabral de Melo Neto
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Deus , aborto , fé e hipocrisia - -Deus é foda! A exclamação anterior pode arrepiar o mais céticos dos ateus , mas é isto mesmo , Deus é o cara! -Depois de mais de 2000 anos de sua anunciação seus dogmas ainda mutilam idéias e caráter de pessoas que tentam , forçados por realidades que os cercam , mudar certos conceitos sobre a vida .A mais recente baixa provocada pelos dogmas divinos foi a Dilma , não estou tentando coloca-la na condição de injustiçada , pelo contrario , criei uma aversão a mesma por ela abrir mão de suas convicções em nome dos votos fervorosos de católicos e evangélicos , assim devo coloca-la no mesmo balaio dos hipócritas . -O aborto , em tese , deveria ser tratado como um problema de saúde publica e a fé simplesmente como uma “opção individual ao intocável “ e não como assuntos político-eleitoreiro .Imagino os motivos que leva um padre ou pastor a pedir aos fieis para não votar em um determinado candidato pelo fato dele supostamente não acreditar em Deus ou por que o mesmo é a favor do aborto .Eles não correm o risco de gerar um filho proveniente de um estupro , suas vidas não estarão em perigo durante uma gestação problemática que pode levar a gestante a morte.Assim como podem se posicionar contra a interrupção da gestação de um menina de 12 anos que foi estuprada e fecundada? Fácil ! com frases prontas e bem aplicadas transferem toda a responsabilidade para Deus .Mas o corpo e a vida desta menina não pertencem a vocês , para mim é o mesmo que dizer ; “Foda-se se você será infeliz aos 12 anos por ser mãe , Foda-se se todos seus sonhos foram podados , Foda-se se sua infância e juventude foram perdidas , Foda-se ! você é mulher aceite o fato de bom grado, Foda-se se o fruto do abominável ira saciar a fome em seu seio , Foda-se se você mulher corre o risco de morrer , etc..... !” . Pergunto; Será que Deus é tão mal assim ? Será que Deus é sarcástico ? Ou será que o homem não entendeu porra nenhuma ? -Sempre associamos o aborto a promiscuidade feminina , como se somente a mulher que ao praticar o pecado da luxuria fica grávida e para se livrar do problema o provoca .Cuidado esta realidade pode ser outra , pode estar mais perto de você do que pensas , esta realidade pode sentar-se ao seu lado nos cultos ou lhe estender a mão durante o canto “ Paz , Paz de Cristo . Paz , Paz que vem do amor te desejo irmão“ na missa dominical . -O aborto esta ai , a criança de 12 anos o faz nos porões da hipocrisia . O Serra faz uso político da hipocrisia que esta enraizada em nossa sociedade ao atacar sua adversária com a insistente pergunta ; Dilma você é a favor do aborto e acredita em Deus ? O Zé sabe que qualquer vacilo na resposta adversária pode lhe render bônus pois os votos cristãos jamais serão depositados na urna de um ateu mesmo que este seja o mais honesto , o mais preparado , que seja “Tecnicamente” o melhor , nada disso importa. A Dilma guerrilheira e inflexível com suas convicções ainda esta presa no DOICODI pois os votos dos devotos a obrigou a recorrer aos tradicionais jargões como por exemplo ; graças a Deus , se Deus quiser , tudo pela vida , a vida jamais deve ser interrompida , etc... . -Temos fé ou temos medo? Após 4 décadas de vida me sinto a vontade para confessar que tenho os dois pois minha fé é oriunda do medo. Quando criança me apresentaram Deus como uma pessoa má , o medo veio de frases como ; Deus ta vendo , Deus não gosta , não faça bagunça pois “Papai do céu não gosta” , Deus vai te castigar , Deixe de brincar para ir a missa , etc... .Isto cerceia os direitos das crianças de serem ingênuas e de fazer as descobertas ao seu tempo , instala em suas mentes o medo e não o respeito , isto impõe a fé . Como escreveu Herculano Pimenta em As crianças e os Zumbis “ No momento em que enfileiramos as crianças na escola , que impomos dogmas , estamos contaminando-as com esta doença paralisante do espírito”. -Há tempos rumino perguntas ; Onde esta Deus enquanto milhões de crianças morrem de fome no mundo? Para onde olhavas quando a menina de 12 anos foi violentada e engravidada? Por onde andas você quando jovens vidas são ceifadas sem a mínima explicação? Se somos frutos de sua vontade porque devemos passar por estas dores e provações? É difícil aceitar a resposta de que é simplesmente sua vontade , não posso aceitar a quase cegueira religiosa que com a máxima genérica “Assim quis Deus” , consegue explicar todas as merdas que acontecem no mundo! -Minhas duvidas provem de suas ausências , penso eu que você deveria fazer um upgrade de realidade e mostrar que você não é complacente com as mazelas do mundo que segundo o evangelho você mesmo criou , não abandone suas criaturas , puxe as orelhas dos hipócritas , seja ativista para um mundo mais justo , desça do muro , seja pró ativo e não reativo , não deixe seu nome ser usado em vão (politicamente) , não seja o ópio seja a solução pela razão , faça uso de sua onipotência , onisciência e onipresença ! -Como muitas leis e direitos o estado LAICO só existe no papel e muitos ainda acham que o bom prefeito é aquele que comunga aos domingos . A hipocrisia estrutura nossa sociedade pois esta é regida pela nossa paralisia moral , nossa estática evolucional é provocada pelas nossas próprias aceitações e convicções arcaicas.O pobre ainda acha que ser miserável é a vontade de Deus e que essa condição feudal não pode ser alterada pelas mãos do homem , não há nada que possa ser feito! -O livre arbítrio da ao homem o direito a opção? Então se abortar ou duvidar da existência de um criador for pecado ou crime , cada ser humano que se retrate com Deus ou com sua própria consciência no momento adequado .Ninguém tem o direito de julgar um semelhante em nome de um deus ou de um dogma . Ninguém tem o direito de me olhar por cima do ombro pelo fato de eu ter feito um desabafo a Deus ! -Rogo a Deus todos os dias para que mande todos os hipócritas para o inferno e que me de discernimento suficiente para acredita-lo ou não !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!